25/05/2011

Faminta


Teu ego gigante engolindo os castelinhos da cidade encantada onde todo mundo te ama, idolatram teus cabelos loiros boca carnuda olhos graúdos cheios de mar. Tua boca igual planta carnívora tentando encher as folhas taludas de néctar sanguíneo pra satisfazer a fome líquida que seca-lhe as sépalas, quando não satisfeita. Te molha os olhos. Umedece as mãos, nervosismo de não-principiante. Um dia enganaram-te ou você mesmo o fez, acreditou que podia engolir a rejeição de uma presa, logo depois de tantos te encherem de perfeições catalogadas. Caiu morta de folhas dobradas, tantas moscas mortas por dentro, tantos sonhos mortos no chão.

19/05/2011

Diálogo sem resposta


Eu te disse que tem gente que lê mas não , não pega cada palavrinha e transforma em uma felpa bem pequena, não junta cada frase e vai criando uma coroa cheinha de espinhos minúsculos e imperceptíveis a olhos, sensíveis na pele. E aí eu queria que você me dissesse o quanto sou dramática, me enchesse de ódio de você pra se dissipar durante os dias e cobrir nem que fosse só uma quinzena da minha vida, sem precisar te pedir as palavras que eu tanto preciso. Daí você me olhou, assim mudo, e eu pedi um zilhão de vezes repetidas pra você dizer que eu nem preciso da coroa, já sou um espinho inteiro. Que eu te incomodo, te cravo na cabeça as idéias que ninguém precisa ouvir, que eu devia me calar e contar até dez, antes de soltar mais uma das minhas perguntas insignificantes e nem um pouco plausíveis. Poderia falar que todo dia me vê no mesmo lugar em contagem regressiva, quase que inocentemente colocada perto da tua porta, pra te ver anotando mentalmente os afazeres que ocupam o meu lugar na tua cabeça. Só que você continuou sem dizer nada, e quando você não fala, me exige maior esforço mental do que nos diálogos inteiros sobre a crise que afeta a bolsa e te afeta em cheio, tua vida dependendo do dinheiro investido e a subentendida nem um pouco dependência de mim, que não sai do ar toda vez que você fala. E você não sabe o quanto eu prefiro ela à tua indiferença coberta de boas intenções pra não me magoar. Tem menos conhecimento ainda, de todas as vezes que mando as tuas intenções de menino bem criado pro inferno, te desejando um pouquinho de maldade, me colocando à disposição pra servir de objeto de tortura. Assim, como em todas as vezes que eu te vejo e que falo sem freio, tu me para com um olhar reprovador e me enche de desculpas pra ir embora sem ser dessecada pelo teu silêncio felpudo. Pego os espinhos da conversa e fecho os punhos, os olhos e os ouvidos, tranco a boca e você abre a minha ferida sem pressa, porque é assim que sempre acaba: você comigo, eu na tua rua.

13/05/2011

sempre igual


Poderia falar do meu dia cheio de injustiças semelhantes, mas pessoas não gostam de repetições. Poderia falar das minhas faltas de tempo, correrias diárias, porém leitores gostam de melancolia. Poderia explicitar minhas vontades cômodas e pouco interessantes, só que ninguém gosta do que não merece atenção. Do mundo sempre igual. Do eu de cada dia. E é por isso que a gente procura tanto por uma motivação cravada no meio do tempo, que esquece que o tempo não tem pausa pra coisa nenhuma e, pronto, perdemos a coisa. E perdemos a gente.